O Caminho da Estrela
Escritos da Galícia e do Caminho de Santiago
sobre esses poemas e lendas
Estive algumas vezes na Galícia. Morei na Galícia duas vezes. Uma em 1992 e outra em 1996. Vivi em Santiago de Compostela. Percorri a pé caminhos, estradas e trilhas que somadas juntas devem somar mais do que o Caminho Francês de Santiago. E durante uma semana, entre Ponferrada, no Bierzo e Compostela, caminhei o que pude de meu próprio Caminho da Estrela. Vivi em Santiago o bastante para haver trilhado pelo menos quase todas as ruas calçadas de pedras e de memórias mais antigas, algumas delas, repetidas muitas vezes. Mas foi nas aldeias e em caminhos entre aldeias que vivi a experiência de minha Galícia profunda.
leia maisNas aldeias de Brión, situadas no Caminho que vai de Santiago ao Cabo Finisterrae e, de maneira especial, nas aldeias da Paróquia de Santa Maria de Oms, eu convivi as longas horas dos muitos dias quem deseja encontrar e ouvir , entre o vinho, o silêncio, os ruídos da natureza e a palavra, as pessoas, as pedras, os tempos, os gestos, as cenas que vão de um vôo de gaivota a uma festa a um santo padroeiro, e mais as memórias de uma gente de já cabelos prateados sob boinas negras e chapéu galegos de palha. E elas acabaram sendo a substância de quase tudo o que escrevi aqui. Quero lembrar agora os seus nomes de aldeias: Oms de Abaixo, Fonteparedes, A Igrexa, Pazos, Salaño Pequeño e Salaño Grande.
Eis porque os poemas em prosa, ora curta, ora longa, e as lendas que criei dos mitos que ouvi contarem, falam tanto em deus quanto nos homens. Falam de seres que mesmo quando de agora, parecem vir de um outro tempo. Palavras, ouvidas algumas, lembradas em mim, outras, que desejam vir de outras eras para os tempos de agora vir de eras passadas.
Alguns de pessoas e de seus livros ou palavras recordam leituras sem as quais eu não teria escrito o poema que elas e eles finalizam.
Carlos Rodrigues Brandão
Campinas, outono de 2007