Peões, Pretos e Congos – trabalho e identidade étnica em Goiás
A ideologia dos negros de Goiás remete a momentos seqüentes e opostos, o conhecimento de como as pessoas são, como vivem e como trabalham hoje. O presente não se interpreta por si mesmo, mas está envolvido dentro de um discurso de valores “entre tempos”. Assim, todas as coisas que existem agora e através das quais as pessoas se enfrentam são definidas a partir de um confronto com tempos anteriores e pelas formas como os mesmos tipos de sujeitos e relações existiram dentro de cada um deles.
leia maisQuando o negro explica a sua sociedade, começa por desdobrá-la em duas etapas de passado e uma de presente. Há uma época distante e pouco significado que quase não alcança a biografia de qualquer pessoa viva na cidade. Este é o período que os brancos “de posição” costumam chamar de “o tempo do ouro”, e os negros, de “o tempo do cativeiro”. Há um período de passado mais recente de que participaram os trabalhadores adultos ou já velhos, misturando-se ao de suas vidas e sendo indispensável para qualquer referência ao presente. Posterior aos anos que sucedem a decadência da mineração do ouro, alcança a transferência da capital do estado para Goiânia e vai até quando a região começa a ingressar em uma economia de mercado pastoril e de cereais. Em Goiás este é o “tempo antigo”1. Há, finalmente, “os dias de hoje”, um tempo de agora, definido no discurso do negro como a seqüência e a piora do “tempo antigo”. Para que sejam categorizados os “tempos” de explicação da sociedade, são ideologicamente empregados dois indicadores: as relações de trabalho, que definem o “tempo do cativeiro”, e as condições locais de distribuição e consumo de excedentes que definem o “tempo antigo”. Quando reunidos, os dois servem à descrição dos “dias de hoje”. Quando se afirma que um destes indicadores define um dos tempos da sociedade, propõe-se que ele esteja presente no núcleo de sua interpretação, subordinando o outro, sem ser, no entanto, um indicador ideológico exclusivo.
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